qui 25 abr 2024
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O universo mental de cada indivíduo é feito pela linguagem, aponta estudo

A cultura é determinante. Por ela o homem aprende sua linguagem, a qual irá definir a interpretação das informações que recebe e processa. (Foto: Blog Portal da Língua Inglesa)

Nilma Almeida, ainda na época do toca fitas, escrevia as letras das músicas em inglês que ouvia. Era adolescente, e foi neste processo que teve o primeiro contato com uma língua estrangeira. Aprendeu o inglês e não parou mais. Ela é fluente em francês, espanhol, italiano, inglês e arrisca no alemão. Pessoas como Nilma, que hoje leciona no curso de Letras da PUC-PR, são chamadas poliglotas, portanto fluentes em mais de duas línguas. “Aprender outras línguas abre a cabeça, faz o cérebro funcionar, as sinapses parecem mais rápidas”, diz. Ela não consegue enxergar a vida sem os diferentes idiomas.

O sentimento da professora tem explicação cientifica e se dá pela relação entre Linguagem e Cognição. Esta última é definida como ato ou processo de conhecer, incluindo o pensar, a atenção, o raciocínio, a memória e as percepções dos sentidos. A professora de Neuropsicologia da UFPR Tatiana Riechi explica que as informações que recebemos por meio dos olhos, ouvidos, nariz, tato e boca são processadas pelo cérebro. À medida que o órgão analisa, sintetiza e memoriza as informações, a cognição está acontecendo. Depois, então, vem a linguagem, que é como o corpo se manifesta diante dos dados. “Então somos capazes de responder sempre de uma maneira fisiológica ou motora a esse meio. Por exemplo, podemos gritar, pular, xingar, sorrir e chorar. Assim se dá a relação da Cognição com a Linguagem”, conta Rieche.

Linguagem e existência social

O professor na área de Semântica e Pragmática das Línguas Naturais da Unicamp, Kanavillil Rajagopalar, explica que não é possível existir pensamento sem a presença da linguagem. “Ao afirmar isso, estou me baseando na tese de que a linguagem é muito mais que a língua. Ela permeia tudo e por isso mesmo torna possível o próprio pensamento”.

Muito discutida, a relação da linguagem com a percepção de mundo retorna em meados de 1930, quando os linguistas Edward Spair e Benjamin Lee Whorf formularam uma teoria de que as pessoas vivem em universos mentais bastante distintos conforme as línguas faladas.

Ao redor do mundo existe uma enorme variedade de idiomas – mais ou menos sete mil ao todo – e cada um deles permite aos falantes o contato com diferentes culturas, modos de agir, pensar e interpretar o mundo. No caso da professora Nilma, que é poliglota, os variados idiomas permitem que a compreensão de mundo seja diferente de quem só fala português, por exemplo. “Consigo assistir programas, ler livros nesses vários idiomas, assim compreendo melhor até mesmo os países onde estas línguas são naturalmente faladas”.

Rajagopalar explica que a própria natureza do ser humano se deve à inserção na sociedade. “Embora se diga que o ser humano vem ao mundo sozinho, sua estadia só começa a fazer sentido a partir do momento em que ele se torna um ser social”. E a linguagem, como forma de comunicação, é quem irá construir estas relações sociais.

A cognição e as várias reações

Como o entendimento humano é determinado pela linguagem, as dificuldades de aprendizado estão entre os transtornos cognitivos. Tatiana Riechi, explica que a dislexia é uma dessas disfunções. Bastante conhecida, a incidência do transtorno pode chegar a 10% da população brasileira, e 0,5% a 17% da população mundial.  A dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever fluente e corretamente, e ainda dificuldade em compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras. Riechi explica que há outros transtornos que alteram a cognição, como o Espectro autismo. “Uma pessoa com esse transtorno terá uma característica muito peculiar sobre a percepção cognitiva, e isso determina como ela se relaciona com o meio e, consequentemente, sua qualidade de vida”.

 

 

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