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Terceira idade marca presença na UFPR

Osvaldo Menezes completou 60 anos em 1998 e passou a fazer parte da maior idade brasileira. Professor de Língua Portuguesa aposentado desde 1985, ele ainda não tinha abandonado a profissão de vez e continuava dando aulas. Foi apenas cinco anos depois, em 2003, que o governo federal criou o Estatuto do Idoso, visando garantir os direitos de uma parcela da população que aumenta cada vez mais. A população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passou a ser de 5,9% em 2000, chegando a 7,4% em 2010. De acordo com levantamento feito em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2060, um em cada quatro brasileiros será idoso.

O Estatuto assegura qualidade de vida para os idosos e também garante que “o Poder Público apoie a criação de universidade aberta para as pessoas idosas” (Cap. V, Art. 25). O mesmo capítulo garante ao idoso o acesso à educação e exige que os cursos especiais para idosos incluam conteúdo relativo às técnicas relacionadas a novas tecnologias, propiciando integração à vida moderna. Recentemente, a UFPR passou a ofertar à comunidade a Universidade Aberta da Maturidade (UAM) e cursos de línguas exclusivos para a maior idade.

Osvaldo só deixou o posto de professor em 2010. Foi quando a maior idade bateu de vez à porta, mas ele decidiu que não ia parar: se não seria mais professor, voltaria para a sala de aula como aluno. Inscreveu-se para o curso de francês no Centro de Línguas e Interculturalidade da UFPR (Celin) com o neto, que desistiu do curso. Mas o professor aposentado não parou e está atualmente no nível intermediário. “O que me levou a continuar estudando? Eu jamais quis parar”, explica sem rodeios.

O senhor de 76 anos foi professor do filho e colega de turma do neto. “Isso significa transmitir uma experiência de vida na sala de aula, mostrar que é importante estudar”, pontua. Apesar da abertura recente de turmas exclusivas para a maior idade, Osvaldo preferiu continuar na turma mista. A única dificuldade surgiu recentemente: as tecnologias. Precisou pedir ajuda à neta de dez anos para montar uma apresentação de slides. Ele defende que as tecnologias são a maior barreira para a inclusão de um idoso na educação atual. “Existem muitas pessoas com a minha idade que acompanharam a evolução das tecnologias, mas a maior parte deixou de acompanhar há muito tempo”, lamenta.

Seu Osvaldo foi professor do filho, José Vito, e colega de classe do neto, Leonardo José. Foto: Giulia Halabi.
Osvaldo foi professor do filho, José Vito, e colega de classe do neto, Leonardo José. Foto: Giulia Halabi

Universidade Aberta da Maturidade

A aula de informática é uma das diversas disciplinas da UAM, um curso especial da UFPR para  pessoas com mais de 55 anos. A iniciativa, que existe desde 2012, tem uma grade horária que vai se adaptando de acordo com o interesse dos alunos. Cineclube, Direito do Idoso e Expressão Corporal estão entre as disciplinas que já foram ministradas nesse ano, em aulas que ocorrem de segunda a sexta, no período da tarde. As aulas, como explica a coordenadora  da UAM, Maria Von der Heyde, mudam todo mês.

Professora aposentada do Departamento de Nutrição da UFPR, Heyde diz em tom de brincadeira que já está trabalhando para si mesma. Com 60 anos, ela faz questão de demonstrar as habilidades com o computador ao imprimir um discurso feito por ela durante um evento sobre o projeto. Para Heyde, a integração de pessoas idosas nos espaços e atividades acadêmicas da UFPR transformam os participantes. “A equipe de servidores envolvida, os professores e técnicos administrativos têm a oportunidade de repensar-se como profissionais e aperfeiçoar a metodologia”, defende. Para ela, o curso contribui para que os alunos tenham uma maior qualidade de vida.

Francês para maior idade

O Celin da UFPR tem aulas exclusivas para idosos: os chamados cursos para superadultos, em inglês e espanhol, e o curso de Francês para a Maior Idade. Esse último começou no primeiro semestre de 2014 por iniciativa da professora Liane Moletta, que percebeu a necessidade de criar uma turma exclusiva ao observar o comportamento dos idosos nos grupos mistos. Ela conta que eles tinham mais dificuldade, sentiam-se excluídos e ficavam com vergonha de perguntar, insegurança causada porque os jovens aprendiam mais fácil.

A primeira turma teve oito inscritos – todos já tinham cursado turmas mistas e não se sentiram à vontade. O Celin não demonstrou interesse em manter a turma no segundo semestre, mas graças aos esforços de Moletta junto à coordenação, seis idosos continuam estudando francês na turma da maior idade. Porém, a professora acredita que em 2015 os fatores financeiros vão ser mais fortes e a turma deverá fechar.

Apesar  do conteúdo e as avaliações serem idênticos aos do curso regular, o trabalho na turma da maior idade é diferenciado. O começo da aula é uma espécie de terapia, em que todos conversam e contam o que fizeram no final de semana. A aula transcorre “no ritmo deles”, como conta a professora. “É um trabalho que não dá para fazer na turma mista, de maneira nenhuma”, defende. A professora fez outras adaptações, como dividir a prova em diversas partes, para diminuir o stress, e escolheu a dedo o conteúdo extra que é utilizado em aula – como músicas e filmes.

Moletta ressalta que manter uma turma como essa tem importância social. “São todos aposentados e fazem o curso como terapia”, coloca. “Alguns têm apenas a intenção de viajar, mas outros estão aqui para fazer amigos ou fugir dos netos”.

 

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